domingo, 21 de fevereiro de 2010

oitenta e oito


Pálida e franzina...
 Nos olhos o medo do medo
Medo de não ser querida
De ter feito algo errado
Sentia que sua vida
 Assim como de muitas de suas colegas
Não era uma vida normal
Sem pai sem mãe sem irmãos
Ou qualquer laço familiar
La estava ela a vagar...
 Pelos corredores do internato e da solidão
Que mal tinha feito pra ser diferente...
Sempre essa idéia... Essa idéia a deixava doente
 Passava-lhe pela cabeça... Como se fosse um flagelo
 De cabelos cortados tipo tigelinha
Era o anjo do colégio...   
Elogiada por todos   
mas ela tinha defeitos
 E os controlava, pois mais do que tudo
ela queria ser amada...
Pra ser santa só faltava morrer e canonizar
Como morreu sua amiguinha
Ao subir numa escada pra limpar o lustre do altar
E seus miolos foram no chão se espatifar
Triste cena morreu antes de começar a viver
Pobre menina, no jornalzinho da semana
Ela era a heroína...
A heroína do altar...
Mas as coisas aconteciam como se fossem
 Marcação de um destino vilão
E a meiga criança triste
 Guardava tudo aquilo no seu coração
Levantava todos os dias...
Ao som da ave Maria
Era uma hora sagrada
A santa missa esperava
Mas devido a fraqueza
Mal entrava na igreja
Já saia desmaiada
Talvez por causa do jejum
Ou porque aquilo devia ser comum
Não tinha nome...
Um número a identificava
Pra hora do banho, das refeições
Das orações das procissões
A hora do lanche da tarde
Suas roupas eram marcadas
Só não marcaram a carne
E com um sorriso maroto
Quando perguntavam seu número
Ela dizia... Oitenta e oito


Anna Karenina

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